O Mercado Sustentável da Amazônia: Potencial e Desafios

SUSTENTABILIDADE

Carlos Morandi, Head of Digital Finance Transformation Natura

9/11/20242 min ler

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d e s e n v o l v i d o p o r

O Mercado Sustentável da Amazônia: Potencial e Desafios

Imagine que você tem dois filhos pequenos, vocês estão no cinema com um grande pote de pipoca. Antes do término dos trailers, o pote já acabou. Se fossem dois potes separados, com a mesma quantidade de pipoca dividida entre ambos, provavelmente iria durar mais. Esta é uma forma de explicar o conceito da Tragédia dos Comuns, sugerido por William Forster Lloyd em 1833, popularizado por Garrett Hardin em 1968 e posteriormente desafiado por Elinor Ostrom, que foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de economia em 2009. Cada agente atua de forma racional para maximizar sua própria utilidade em um sistema de recursos compartilhados (comuns) e limitados. A “tragédia” reside no fato da inevitável super exploração e esgotamento dos recursos. Esse conceito, aliado ao baixo custo do desmatamento e à atrativa rentabilidade do uso da terra para produção de soja, milho ou gado, explica parte do problema do desmatamento da Amazônia. A solução? Criar um ambiente de exploração econômica que remunere mais os agentes que mantiverem a floresta de pé em uma atuação responsável do que a agropecuária tradicional. Qualquer setor com baixas barreiras de entrada em que empresas incumbentes obtenham lucros extraordinários irá atrair competidores. Com estabilidade institucional, acordos críveis e custos de transação razoáveis, o setor atrairá investimento. Isso não é fácil, mas empresas responsáveis como a Natura e Dengo Chocolates já estão fazendo isso. Quem já visitou o Eje Cafetero na Colômbia sabe que a experiência é digna dos melhores roteiros de enoturismo do mundo. O conceito de terroir se aplica bem, com apreciação dos a romas e sabores de diferentes produções de Café da região.

O valor agregado da “experiência” de degustar o café colombiano é internacionalmente reconhecido. O que impede o chocolate brasileiro, produzido com cacau da Amazônia, de ser um símbolo internacional de consumo sustentável e esse valor agregado remunerar de forma justa todos os agentes envolvidos na produção? Torço muito para que as empresas que tenham produção responsável na Amazônia possam auferir lucros extraordinários. Meu sonho? Que esse setor não seja um oceano azul, mas seja extremamente competitivo com muitos entrantes e investimento estrangeiro. Confiança é essencial. O fair-trade na região ainda é caro e o custo de fazer coisa errada é baixo. Uma situação similar ao incidente de trabalho análogo a escravidão recentemente envolvendo empresas brasileiras, destruiria a credibilidade e atrasaria em muitos anos a expansão desse novo setor. Quer ajudar esse setor a se desenvolver? Consuma produtos e alimentos produzidos de forma responsável na Amazônia.

Autor: Carlos Morandi, Head of Digital Finance Transformation Natura